Bastam poucos minutos de conversa sobre atuação com Marcos Breda, o subserviente Pelópidas de "Caras & Bocas", para perceber que o ator é um apaixonado por sua profissão. Fundamentado pela mistura de estudos teóricos e conhecimento prático, seu discurso é de quem leva a sério o seu ofício. Exatamente por isso, se torna ainda mais curioso o fato de que sua relação com as Artes Cênicas tenha começado tão tarde e de maneira casual. "Foi uma coisa louca. Interpretar foi a única coisa na minha vida que eu não escolhi fazer", afirma ele, que, até os 15 anos, sequer havia visto uma peça de teatro.
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O ator Marcos Breda, que vive o Pelópidas na novela "Caras & Bocas"
Antes disso, porém, ele já começava a se aproximar do palco. Depois de ver uma apresentação do influente grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone - que reunia artistas como Regina Casé e Hamilton Vaz Pereira -, Marcos se encantou com o teatro. "Eu tinha 18 anos. Foi a primeira vez que tive um êxtase na platéia, como público. Pensei, 'teatro é muito legal'. Mas nunca tinha pensado nisso como profissão", ressalva.
O desvio na carreira aconteceu algum tempo depois, por uma conjunção de fatores: à uma certa desilusão em relação à faculdade, juntou-se a determinação do gaúcho em conquistar uma amiga. Como parte do processo de flerte, ele aceitou ir ao ensaio da peça da qual ela estava participando, uma montagem de "Marat/Sade", escrita pelo alemão Peter Weiss. "Fiquei fascinado com aquela atmosfera e quis ir de novo no dia seguinte. Passei uma semana indo lá, todos os dias. Não ganhei a menina, mas fiquei fissurado por aquela ideia", diverte-se ele, que, de tanto acompanhar os ensaios, acabou sendo chamado pelo diretor para fazer figuração como um dos internos do hospício no qual se passa a ação.
Desde então, já são quase 30 anos de carreira que se traduzem em uma lista extensa de trabalhos. Em tevê, a estreia aconteceu na minissérie "O Tempo e O Vento", baseada em "O Continente", primeira parte da obra literária de Érico Verissimo. Com a hercúlea proposta de traduzir, em uma única produção televisiva de apenas um mês, os cerca de 150 anos de história abordados pelo livro, a minissérie abriu as comemorações pelos 20 anos da Globo, em 1985.
"Foi muito bom por ser baseado em um livro do Érico e também porque foi quando eu comecei a aprender o que era a linguagem de tevê", recorda. Logo em seguida, ele se mudou para São Paulo para tentar a sorte em um teste para "Feliz Ano Velho", versão do "best-seller" homônimo lançado por Marcelo Rubens Paiva em 1982. Acabou levando o papel do protagonista Mário. "Era a maior produção cinematográfica do ano, com um elenco que pertencia a um universo que eu mal vislumbrava", observa ele, citando os nomes de Marco Nanini, Eva Wilma e Malu Mader, atores já bastante conhecidos do público.
Um ano depois, ele recebeu um convite da extinta Manchete para integrar o elenco de "Helena", novela exibida em 1987. Desde então, foi alternando trabalhos em cinco emissoras - além de Globo e Manchete, também fez parte dos quadros do SBT, da antiga Record e, mais recentemente, da Band.
"Aprendi a fazer tevê com estruturas diferentes, desde produções com muita grana até aquelas com nenhum dinheiro. Quando vejo um colega reclamando que o café está frio, penso 'você não sabe o que é trabalhar em condições adversas'", pondera ele, que, além de destacar os papeis em "Mandala", "Que Rei Sou Eu?" e "Vamp", aponta o serial killer Baltazar Guimarães, de "Paixões Proibidas", na Band, como seu melhor papel no veículo. E, para quem quer começar na instável vida de artista cênico, o ator dá um conselho. "O mais importante é conseguir nutrir uma noção de autoestima que independa do aplauso e da vaia externa. Você não pode ficar se sentindo só porque estão te aplaudindo, nem entrar em depressão porque estão te vaiando", ensina.
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